sábado, 23 de maio de 2015

SEBASTIÃO SALGADO - O ANJO FOTÓGRAFO


Quem é esse brasileiro  nascido em Aimorés, Minas  Gerais , único  homem entre nove irmãs,  filhos  de um fazendeiro  e uma dona de casa  e que, bem jovem, deixa uma vida tranquila  e sai caminho afora  passando a olhar o mundo e os homens através das lentes  de uma  câmera Leica nas mãos? A resposta podemos encontrar no filme “O SAL DA TERRA” (2014), dirigido por Juliano Salgado e codirigido por Wim Wenders  que  já biografou para o cinema nomes como Nicholas Ray, Pina  Bausch e agora o fotógrafo   Sebastião  Salgado.

O documentário, que  propõe um  tributo de  filho  para  pai,  ultrapassa o formato e  traduz  com  poesia, sensibilidade e imagens grandiloquentes o  resultado de anos de um ofício que começou quase que por acaso na vida  do  jovem “Tião”  quando esteve fora do Brasil durante os anos da ditadura  militar. De início, somos surpreendidos com a  imagem fixa de uma fotografia  e a voz em  off de Wim Wenders narrando  sua comoção diante de uma  das  fotos do autor  até então  desconhecido, em seguida, no mesmo plano entra  a fusão do rosto de Sebastião  com sua fotografia. Isto é só o começo das emocionantes histórias e depoimentos do próprio artista, seu  trabalho, sua família e suas inquietações sobre a vida. 

 A partir daí, o filme mostra os comos e  porquês de  vários trabalhos  fotográficos reunidos em  livros como “TRABALHADORES” (1996), “OUTRAS AMÉRICAS” (1999), “ÊXODO”(200) e “GÊNESIS” (2014).  É  impossível qualquer espectador  ficar indiferente à emoção  revelada na  arte  fotográfica de  Sebastião  Salgado. Como bem coloca Win Wenders em sua fala sobre a etimologia da  palavra fotografia: Salgado se expressa por meio de  uma “ escrita de luz”. Aos  poucos,  vamos  descobrindo  o  olhar  desse homem brasileiro cidadão do mundo que mais assemelha-se a um destemido anjo  fotógrafo  que  parece estar onipresente nos   confins  do  mundo observando e captando momentos  que  ninguém  quer  ou  não consegue  enxergar.
 Com  o tom  predominantemente humanista e social, o documentário expressa a inquietação de um homem que busca um mundo melhor por meio de sua obra, nem que para isso seja necessário captar a crueza e o sofrimento de homens, mulheres e crianças fugindo de  conflitos na região  do  Sahel na África, massacrados pela  fome e esquecidos em  campos  de refugiados. Os  fluxos  migratórios forçados pelas guerras étnicas e raciais  e disputas políticas  em  países divididos. Há  lugar também  para a natureza em seu estado bruto, selvagem e intocado. Passamos a entender  e  ver  o Sebastião Salgado por  trás  da câmera, o homem cujas  retinas  se confundem com  a própria  lente de sua câmera.


 
 O filme “O SAL DA TERRA” foi indicado  ao Oscar de Melhor  Documentário em 2015, e  tem conquistado plateias ao  redor do  mundo,principalmente  aqueles  que  admiram  o  trabalho de  Sebastião Salgado e a importante participação  de Wim Wenders no roteiro e na codireção. Essa parceria  só poderia  resultar  num trabalho de pura  beleza  revelada além da  fotografia.  Um filme  urgente e necessário para ser  visto.


sexta-feira, 23 de maio de 2014

A PRAIA DE KARIM AïNOUZ


A  exuberante eloquência da fotografia de “Praia do Futuro” (2013) de Karim Aïnouz demonstra muito mais  que uma simples escolha de locação ou tentativa de  situar os personagens social e culturalmente. As ondas do mar, a intensa luz  solar, o azul do céu e o forte vento  da Praia do Futuro não são   suficientes para preencher  as angústias e os anseios de Donato (Wagner Moura), o salva-vidas que perde uma vítima para o traiçoeiro mar de Fortaleza no Ceará. 
É nesse ponto de trágico encontro  que inicia a complexa  relação entre o estrangeiro  Konrad (Clemens Schick) e Donato. Por outro  lado, a cinzenta e fria Berlim de Konrad se mostra um  possível porto de felicidade  na vida de Donato. Esse contraponto, por meio da  fotografia, é de uma beleza ímpar, pois sugere os estados de alma do protagonista no seu jogo de perder-se e  encontrar-se  na árdua  busca por um sentido na  vida, pelo amor e pela realização pessoal.

Karim Aïnouz  nos convida  a  mergulhar nesse mar  psicológico do  personagem  Donato que é mais  denso e profundo que o mar   que ele tantas  vezes enfrentou e salvou  outras  vidas. Agora,  Donato  tenta  salvar a sua própria  vida e tomar decisões, o que  parece ser tarefa  mais  difícil que o seu  próprio ofício de guarda-vidas. O sumiço do corpo  do afogado cria uma atmosfera  tão enigmática e misteriosa que a cena das  buscas no mar bravio  lembrou-me “A Aventura” (1960) de Antonioni, que  também mostrava  um desaparecimento como  ponto de partida  para o envolvimento de paixão entre um  casal   e os desdobramentos psicológicos que se desenrolam a partir do sinistro incidente no  grupo de amigos  em uma ilha no mar Mediterrâneo.
Mais  uma vez, Karim Aïnouz explora  com maestria  a complexidade das  relações de afeto entre as pessoas. Se no filme anterior  “Abismo Prateado” (2011) acompanhamos Violeta (Alessandra Negrini) em sua dor de amor gerada  pelo súbito abandono do marido,  em  “Praia do Futuro” há um triângulo amoroso não convencional  envolvendo o  irmão Ayrton (Jesuíta Barbosa) que é abandonado e esquecido ainda criança na isolada praia pelo irmão mais velho Donato que decide morar  na Alemanha em  companhia  de  Konrad. A difícil equação das contas que envolvem o  amor fraterno de Ayrton e o amor de Donato por  Konrad parecem, à primeira vista, não ter uma solução feliz. Há uma contextura de ressentimento e revolta que vão se acomodando à medida que os irmãos se reencontram, anos  depois, em Berlim. Já o sentimento de Donato  por Konrad não suporta o  grande vazio deixado pelas  referências e  laços de afeto ligados às  origens do brasileiro em seu autoexílio. 
          É um filme  sobre  buscas. A busca por conhecer a si mesmo, a busca pelo outro, a busca pelo irmão-herói amado da infância, a busca pela zona de conforto almejada por todos, mas que não está  em  uma bela paisagem de um país tropical “onde se tem a obrigação de ser  feliz” ou na possibilidade de segurança financeira e profissional  num país frio e cinzento do primeiro mundo. “Ouvi dizer que no Brasil todas as pessoas são felizes!” – retruca a atendente do pub alemão onde Donato se embebeda.                                                                                                                


O filme  causou um burburinho desnecessário no Festival de Berlim, nas redes sociais e na mídia aberta por  conta  das  poucas  cenas  de sexo e  nudez  entre os  dois  protagonistas.  Recentemente, uma rede de cinemas alertava, carimbando nos  ingressos a palavra “AVISADO”, caso  os  espectadores reclamassem do teor homossexual dos  personagens. Definitivamente o filme não é  um “filme gay”. É um filme  sobre a nossa frágil e complexa  humanidade.    Na sessão em que estive, perdi a conta de tanta gente que abandonou  o filme logo nos primeiros 25 minutos. Também pude perceber a reação preconceituosa da plateia diante  das  cenas de sexo. Havia muitos  jovens na sala rindo e debochando das atuações de Wagner Moura e Clemens Schick. Acredito que eles entraram no cinema para  ver se o “Capitão Nascimento” ressuscitava  ou  para ver o ator  das novelas. Eles não foram ver  o ator em seu criativo e desafiador  ofício de fazer mais um personagem. Para esse público restam as neo-chanchadas  de gosto duvidoso do atual cinema brasileiro com suas mesmas historinhas cada vez mais rasas e sem conteúdo . 
 De fato, a  praia de Karim Aïnouz não pode e nem deve ser  frequentada por qualquer um. Não  por  ser  uma praia  perigosa de ondas grandes. A praia de Karim exige  um  pouco mais de inteligência ou apenas  legitima  curiosidade  dos  seus frequentadores. A praia de Karim Aïnouz  ainda assim está com livre acesso a todos. Bom mergulho!






sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

NINF( )MANÍACA VOLUME I - UM ESTUDO DE CASO



Lars Von Trier é  um  dos poucos  diretores  atualmente que  ainda  mantém  o vigor e o rigor  nos  seus trabalhos  conseguindo surpreender até seus  admiradores, digamos  assim, mais  iniciados.  Tem no  currículo filmes  importantes como “Europa” (1991),“Dançando no Escuro” (2000), “Anticristo” (2007) e “Melancolia” (2011).  Colecionador de  polêmicas,   reconhecido pelo radicalismo  e a difícil  convivência no set de filmagens, o enfant terrible é um mestre quando o assunto é cinema. Foi um dos mentores do  movimento  DOGMA 95, e depois de    romper  com as  regras do  manifesto,  seguiu  fazendo    um cinema que tem a sua  marca própria.
Lars  retorna ao centro  das  atenções com seu perturbador “NINF( )MANÍACA - VOLUME I”(2013), uma espécie de estudo  de  caso  sobre uma  mulher  que descobre sua  sexualidade precocemente e envereda  pela  compulsão ao  sexo. O  título por si  só  já  é  um chamariz aos  desavisados que, sem conhecer o mínimo sobre o diretor Lars e sua  obra,  vão  em busca de sexo  explícito  gratuito próprio dos  filmes pornôs. Em NINF( )MANÍACA existe o erotismo e a sexualidade no sentido mais sério a ser abordado e nenhuma pornografia própria do  gênero de filmes do tipo. Desse modo, somos  convidados a participar do divã proposto por  Lars Von Trier  com o Sr. Seligman (Stellan Skarsgard) e  sua  “paciente” Joe (Charlotte  Gainsbourg) - a analogia  é  pertinente  pois  a construção  cenográfica remete a  essa câmara de atmosfera psicológica em que somos imersos. Uma solução narrativa inteligente do  diretor  para  nos prender atentamente  aos  relatos de Joe.

 Partindo  de metáforas e imagens por  vezes poéticas,  passando  por  cenas um tanto  cruéis  e outras   pouco confortáveis, o  sexo é tratado de  forma densa e com tamanha  profundidade como foi em “SHAME” (2011) de Steve MacQueen que mostrou o  personagem Brandon  (Michel Fassbender) em estágio de equivalente  obsessão sexual. Ambos  personagens   vêem  o sexo  como  forma  de poder sobre  os(as)  parceiros(as) inicialmente, mas  depois  acabam  sucumbindo ao vício da  satiríase  e  da  ninfomania.
 
Tema tabu  por excelência, difícil  e arriscado  de ser  explorado  no cinema,  Lars  consegue  até arrancar alguns risos (nervosos) com seu  humor  sutil e por vezes  prosaico – o que  não compromete o  conteúdo do  filme.  Entretanto,  ele      provoca  a platéia através  de uma  espécie de voyeurismo psicológico: adentramos na  história  da vida  sexual de  Joe e essa sexualidade  tão super exposta é  mais  subjetiva e multiforme  do que  se imagina.  Joe é  a prova dessa complexidade  através  de cada  experiência  narrada. Fica para o espectador a difícil tarefa de julgar se Joe é  de  fato  um ser  humano  ruim sem amor próprio  ou vítima de uma psicopatologia ou as duas coisas.


 O filme vai  crescendo  à  medida  que   Joe, sem qualquer pudor,  apresenta seu particular  universo   deixando pistas de uma vida marcada por conflitos pessoais e familiares . Joe  é  como  um  estudo  de  caso, uma referência e não  segue  um  padrão. Seus  parceiros e os implicados  em sua  rede de  relações,  sejam sexuais ou não, são designados por  iniciais (Srta. B, Sr. e  Sra. H) o que    um  tom  de   relato de literatura  médica para cada  capítulo do livro de Lars. Os limites  entre  prazer  e  morte são  bem  estreitos  na vida  da personagem  - como não lembrar  da obsessiva  busca  pelo  prazer  em “O Império dos  Sentidos” (1976) de Nagisa  Oshima? Fato bem ilustrado na  cena em que Joe se defronta com a morte. Patologia  sexual ou reação  involuntária  das emoções? Lars  nos  estimula a  refletir numa  atitude que  toma o lugar de  qualquer   reação (in)consciente comum  da platéia  diante  da  nudez e  da  pluralidade de práticas sexuais  colocadas  na tela. Nos  damos  conta de que a sexualidade  configura  uma  identidade tão pessoal  e intransferível  como  as  impressões  digitais que  cada  um  traz consigo.
 

Interessante também  atentar para algumas escolhas  estéticas  de Trier para contar sua  história. Ele  lança  mão  de   elementos  visuais (gráficos, pictóricos e imagéticos)  e  intertextuais (música, matemática, filosofia e literatura) para enriquecer o diálogo  com  a platéia sobre um assunto ainda considerado  tão proibido, aliás recursos  muito explorados também  por  Peter Greenaway   em seus  filmes.

Se o VOLUME I  do  “livro” de Lars  Von Trier é instigante e muito  bem  escrito filmica  e retoricamente, ficamos ávidos  pelo VOLUME II que se avizinha por  meados  de  março nos  cinemas  brasileiros. Lars  Von Trier é um dos  poucos  realizadores  que  pode fazer o que  deseja sem  preocupar-se  com  gregos e  troianos. Sem dúvida, NINF( )MANÍACA – VOLUME I  já  é  um dos  melhores  filmes  de 2014.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

EDUARDO COUTINHO SAI DE CENA


 Que domingo triste e trágico. Perdermos dois artistas de uma vez só. O cinema brasileiro perde Eduardo Coutinho e o americano perde o grande ator Philip Seymour Hoffman.
"A arte é tão altruísta", já dizia Andrei Tarkovsky através de seu personagem no filme "STALKER" (1979), mais altruísta ainda são os grandes e verdadeiros artistas que nos proporcionam o prazer da sua arte num mundo cada vez mais cinzento e pobre de boas ideias.

Eduardo Coutinho é um gênio legítimo do cinema. Digo que é porque sua obra fica e continua para todas as gerações. Tive o privilégio de assistir a uma sessão de um de seus filmes, na época "AS CANÇÕES" (2011) durante a Mostra de Cinema de 2011, seguida com debate feito por ele mesmo. Conversou com o público, falou sobre seus projetos e, quando foi provocado por um de seus fãs, defendeu que fazia filmes para os brasileiros e não se interessava em fazer sucesso no exterior, que o lugar dele era no Brasil. Foi aplaudido. Dois anos depois, a mesma Mostra de Cinema de São Paulo 2013 fez uma retrospectiva de toda sua obra. Justa homenagem.

Pelos corredores dos cinemas lembro ter visto Eduardo Coutinho já fragilizado fisicamente pela idade, amparado por duas pessoas para poder caminhar, mas com um vigor incrível para o trabalho intelectual e para fazer seu cinema. Como não lembrar de filmes extraordinários como "Jogo de Cena" (2007) e "Edifício Master" (2002)? Como não se emocionar com 'As Canções" (2011)? Como não aprender sobre o Brasil com "Peões" (2004) e "Cabra Marcado para Morrer" (1985)?


É uma tragédia o que ocorreu na sua vida pessoal. E para nós, admiradores de seu trabalho, lamentamos que um artista tão produtivo mesmo aos 81 anos se ausente do mundo da sétima arte. O Écran fica mais pobre, o palco fica menos iluminado, mais um canhão de luz apagou para sempre. 

ADEUS, EDUARDO COUTINHO.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

MEUS MELHORES FILMES DE 2013

Mais um ano passou, muitos filmes assistidos nas  salas do circuito comercial ou alternativo, e outros  tantos  revistos depois  de  algum tempo seja nos cineclubes da cidade ou em casa com a conveniência do farto catálogo e lançamentos  em  DVD. Vale ressaltar que  uma releitura, depois  de  longos anos, é  bem interessante: há sempre  um detalhe, uma  opinião ou até  mesmo  uma redescoberta   da parte  de quem revê uma  obra cinematográfica. A exemplo disto revi "SILKWOOD - O  RETRATO  DE UMA  CORAGEM" (1983) de Mike Nichols. Sensação de estar assistindo a um filme que nunca  vi  antes. Minha  cabeça hoje é  outra se comparada à época em que  assisti. 
Tivemos  bons  lançamentos  nas salas do circuito comercial de Belém, mas    a  salvação  da  lavoura  foram  o Cine  Estação e o Cine Líbero  Luxardo com seus programas  diferenciados pela  qualidade  cinematográfica de  títulos e de  grandes cineastas. E, claro, os  filmes do  nosso centenário Cine  Olympia com sua  excelente  programação  por  conta  das  parcerias  com  Fundações  Culturais  como  o Instituto  Goethe e a Embaixada da  França. Os  excelentes "O QUADRO" (2011) animação francesa de Jean-François Laguionie , "ALÉM DO INFINITO AZUL" (2005) documentário de Werner  Herzog e "O NONO DIA" (2004) drama envolvente de Volker Schlöndorff são apenas  uns dos grandes  filmes  exibidos no Olympia.
Belém teve também a sorte de ainda receber o "Festival Varilux de Cinema Francês" no exibidor Moviecom, a "8a. Mostra  Cinema e Direitos Humanos na América do Sul" apresentado no Cine Líbero Luxardo e tivemos ainda, na  mesma  sala, a inédita  mostra de filmes do  cineasta japonês Mikio Naruse com a retrospectiva de seus principais filmes, em parceria  com  o  Consulado do Japão em Belém.
No mês de outubro, novamente tive  a  oportunidade de ir para a 37a. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um verdadeiro playground para qualquer cinéfilo. Assisti a mais de 50 filmes, dentre longas e médias, em sua maioria filmes ainda sem distribuidor no Brasil. Valeu muito a pena!
No geral, 2013 foi um ano compensador no que diz respeito a bons filmes exibidos em nossa praça de Belém do Pará.
Que  venha 2014 com seus Scorcese, Lars Von Trier, Steve McQueen, Karin Ainouz, Hilton Lacerda e tantos  outros bons diretores e outros nem tão  bons assim! Aqui  vai  a lista daquilo que mais  gostei  em 2013. Deixo minhas  desculpas por  não  ter publicado a  lista dos  meus  melhores de 2012 aqui no  meu  blog. Acho que  algum ansiolítico me  fez  esquecer de  postar, ou talvez algum  filme  arrebatador me  tirou desta dimensão. 

  1. "AMOR PLENO" de Terrence Malick




















2º "AMOR" de Michael Haneke





 3º " O SOM  AO REDOR" de Kleber Mendonça Filho



















4º "O MESTRE" de Paul Thomas Anderson



















5º "NUVEM 9"  de Andreas Dresen



















6º "ELENA" de Petra Costa












7º "ANNA KARENINA" de Joe Wright




















8º "BLUE JASMINE" de Woody  Allen



















9º "NO" de Pablo Larraín



















10º "DEPOIS  DE MAIO"  de  Olivier Assayas


terça-feira, 19 de novembro de 2013

AMOR PLENO - O ÉDEN REVISITADO DE MALICK


 Como fã de Terrence Malick que  sou, fica difícil comentar sobre seu “Amor Pleno” (To the Wonder/EUA, 2012) sob pena de parecer indulgente demais, porém o que me tranquiliza  é que o diretor de filmes como "Terra de Ninguém"(1973), "Cinzas no Paraíso" (1978) e "A Árvore da  Vida" (2011)  nunca foi  uma  unanimidade do cinema. Neste “Amor  Pleno”, Malick  mostra sua visão muito pessoal (e com toque  autobiográfico) sobre o amor e suas  contradições e tenta esmiuçar o  significado dele através de seus personagens.
 Se no anterior “A Árvore da  Vida”, Terrence Malick também discorreu sobre  o tema amor e  perda,  neste seu “to the wonder” -  numa  tradução  livre algo  como “até  a  maravilha”- , ele volta ao  assunto e propõe uma releitura do Éden mas sem  cair  no óbvio. Nos  primeiros minutos  do  filme ainda  sentimos a  mesma atmosfera da sua “árvore”. É inevitável o aparente dejá vu no espectador, porém Malick não se repete, pelo contrário nos surpreende com o dilema do casal protagonista e do padre em conflito com a própria fé.

 Os  enamorados passeiam por lugares de paisagens oníricas e de beleza  ímpar. Parecem onipresentes através dos sucessivos  takes  rápidos e com edição ágil. Não é casual a escolha  do Monte  Saint-Michel como locação - a construção milenar, lugar-símbolo  da cultura cristã ocidental erguido em homenagem ao arcanjo Miguel. A belíssima  trilha  sonora (com temas de compositores clássicos consagrados) embala o  paraíso  amoroso  dos  personagens reforçando a ideia de um jardim de delícias para  o casal Neil (Ben  Affleck) e Marina (Olga Kurylenko) que  se conhecem em Paris, ponto de partida  do amor entre ambos. No entanto, esse mesmo amor é  colocado  à  prova com a convivência e as contingencias  da  vida a dois. A dúvida e a insegurança de ser estrangeira no país do companheiro fragilizam a relação entre Marina e Neil. Paralelamente, o conflito de convicções do padre Quintana (Javier Barden) expressa a sua busca  pelo amor divino em meio à miséria humana e social .Suas  boas obras e o exercício de  misericórdia parecem insuficientes como demonstração de sua fé em Deus.  É nesse contexto que o amor  divino e o amor humano são  colocados como   discussão principal do filme. 
 Interessante  também notar  a presença de  elementos que remetem à narrativa bíblica do pecado original: a outsider Anna (Romina Mondello) surge de repente na história  como a voz  astuciosa  que incita Marina a provar mais da liberdade, do  sonho e do prazer de ser  o que  quiser, logo  as  consequências  são desastrosas para esta. A própria caracterização do pecado da luxúria denota a ausência do belo. A natureza se  degrada, o domo celeste  que envolve o mundo perfeito quebra e se desfaz como no Éden. Todavia, a solução para o conflito  ocorre   através do perdão  como forma de redenção para que o mundo  e a ordem se restabeleçam  –  aspecto recorrente nos roteiros de Malick. 
                            
É  inegável  que o filme dialoga com alguns trechos bíblicos e em consequência disso a  abordagem de Terrence Malick sobre o amor corre o risco de ser equivocadamente taxada de limitada pelo seu forte teor  cristão  e  ocidental. A temática é universal, atinge a  todos independente  de religião ou da falta dela. Não se esgota e deixa  margem  para outras reflexões. Cinema espiritual ou  metafísico? Na  verdade o amor  pleno de Malick não é apenas um  “filme cabeça” por  assim  dizer, vai muito mais além. É  um filme  para  ser  sentido e visto com os  olhos  do  coração e não somente  com a  razão.



sexta-feira, 15 de novembro de 2013

DESMONTANDO O QUEBRA-CABEÇAS

"O APARTAMENTO" (Israel/Alemanha, 2011) Direção: Arnon Goldfinger


A amizade ultrapassa muitas barreiras e transcende nossa compreensão. Arnon Goldfinger, aos poucos, tenta desvendar o passado de seus avós registrado em pedaços e fragmentos de vida que ocupam cada metro quadrado do apartamento herdado e depara-se com muitas verdades. 
O movimento de desmonte do apartamento o leva para um quebra-cabeças cada vez mais emocionante e doloroso: lidar com o sofrimento da história do povo judeu durante a 2a. guerra mundial. A busca por uma explicação parece fortalecer cada vez mais os elos de amizade entre aquele casal alemão nazista e seus avós judeus sionistas. 
É polêmico quando uma das pessoas envolvidas na história responde ao ser questionada sobre sua postura em relação ao passado que remetia àqueles dois casais tão díspares: "Ou você tem ou você não tem. Isso não se aprende e não posso fingir!" Talvez ela não guardasse ressentimentos nem ódio sobre o tema holocausto. Arnon parecia descontente e seu desapontamento é perceptível. 
A culpa parece ser o fardo imposto que o povo alemão carrega até hoje. O Apartamento é mais uma dessas histórias incríveis que se passaram durante os terríveis dias da guerra e ainda ecoam até hoje. Emocionante