Além das mudanças sociais, políticas e econômicas e do prenúncio daquela que seria a nova configuração da ordem mundial, a 2ª. Grande Guerra deixou aquilo que talvez seja o seu pior legado: as idéias do nazismo e da supremacia da raça ariana.
O filme“IRMANDADE”(Broderskab, Dinamarca,2010), do diretor Nicolo Donato mostra um grupo de jovens neonazistas de classe média com uma vida aparentemente normal que usufruem de todas as condições e conforto que podem ter, porém, ao mesmo tempo, às escondidas, numa prática quase religiosa, hostilizam com extrema violência física e psicológica árabes, homossexuais e outros grupos minoritários considerados ‘inferiores’. O fato irônico e surpreendente da trama é que Lars (Thure Lindhartd) sai do exército por questões pessoais em busca de outros horizontes e, como forma de autoafirmação e revolta com os pais, acaba entrando no grupo de neonazistas e conhece Jimmy (David Dencik) seu treinador, numa relação que vai do estranhamento, passa pela admiração e chega à paixão. Os dois revezam o amor mútuo entre reuniões escondidas do grupo para planejamento de ações e a convivência numa base de treinamento. A relação ilícita de ambos completamente abominável diante do próprio código e idéias neonazistas é o ponto de tensão do início ao fim do filme.
De fato, o filme está longe de ser apenas uma obra ficcional que apenas mostra um problema, mas denuncia a realidade atual da presença articulada e organizada dos grupos neonazistas que alcançaram uma amplitude considerável no mundo todo. Se no século passado existiu o ovo da serpente, hoje existem vários espalhados pelo mundo numa tentativa de legitimar uma ideologia perniciosa e ameaçadora.
As idéias do nazismo são colocadas de maneira sutil no discurso do líder do grupo, o personagem Michael (Nicolas Bro), que justifica a prática dos atos violentos num falso tom político e social: “os árabes chegam aqui e tomam nossos empregos e ainda recebem ajuda financeira do governo (...) não queremos violência, só queremos eles distante daqui, pois eles atrapalham nossa natureza”.
A sequência da tensa discussão entre Lars e Michael sobre a especulada homossexualidade do chefe da propaganda nazista Joseph Goebbels deixa transparecer que os nazistas negaram a verdade dos fatos e tentaram extirpar tudo e todos que pudessem se opor ao ideal nazista e a pureza da raça chamada ariana. Hoje, seus discípulos neonazistas sustentam o mesmo discurso atenuante para justificar suas práticas criminosas.
Com um elenco em atuações admiráveis e longe de ser um filme panfletário sobre a defesa dos homossexuais, “Irmandade” vai além de querer mostrar uma doença social que insiste em disseminar-se, mas nos coloca em estado de alerta e atentos à toda forma escondida e disfarçada de idéias que podem estar presentes em discursos políticos e organizações diversas e que são potencialmente ameaçadoras à liberdade e democracia. Um filme excelente apresentado na Mostra Internacional de São Paulo deste ano.
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