O filme “BOCA DO LIXO” (2010) do diretor Flávio Frederico, estreou em São Paulo nesta semana durante uma agitada sessão no cine MULTIPLEX da Frei Caneca, com a presença do próprio diretor e grande parte da equipe técnica e elenco. Uma atmosfera de expectativa tomou conta do ambiente, pois a recepção da platéia seria como um termômetro para os realizadores.
Seguindo a linha das cinebiografias de bandidos famosos brasileiros, “BOCA DO LIXO” não decepciona. Faz uma breve e substanciosa incursão na vida de Hiroito de Moraes Joanides, o mítico Rei da Boca (interpretado por Daniel Oliveira) que, na São Paulo dos anos 50 e 60, gerenciava o tráfico de drogas e a prostituição na famosa zona da capital. O filme narra desde sua origem numa família de classe média-alta, mostra o assassinato de seu pai pelo qual é acusado, vai até o seu apogeu e posterior declínio na vida criminosa. Tudo é retratado com realismo, malandragem e humor e, claro, com certo glamour até porque a boemia paulistana da região do baixo meretrício da capital não poderia ser mostrada de maneira tão crua e sem alguma luz de beleza, daí que direção de arte e a cenografia capricharam neste papel filtro sem alterar o delicioso sabor do café. A fotografia da noite paulistana dos anos 50 e 60 é um ponto forte do filme.
Na galeria de personagens está o delegado corrupto (Paulo César Pereio como ele mesmo e num sarcasmo impagável), a bela prostituta e depois esposa de Hiroito (Hermila Guedes sempre em interpretações versáteis e fortes) e uma ex-miss (Leandra Leal linda numa caracterização de pin up sexy) que entra para o mundo do crime.
O fato e a ficção se confudem no melhor sentido dentro do roteiro e deixa a certeza de uma história bem contada. “BOCA DO LIXO” não glamouriza o crime e nem exalta a bandidagem de um Brasil de outrora, pelo contrário mostra um país ainda distante de uma polícia e um sistema de segurança eficientes onde a lei do mais forte e a lei do dinheiro ditavam as regras. A criminalidade de ontem se comparada ao crime organizado de hoje - chefiada por líderes de dentro dos presídios - é como um filme policial romântico. Hoje, o crime usa outros meios, outro modus operandi enquanto que nos tempos de antigamente as armas eram outras. Hoje, dificilmente encontraríamos um bandido de alta patente lendo Charles Budelaire ou fazendo questionamentos filosóficos, isto, claro, não aliviou a barra de Hiroito mas o tornou bem mais responsável sobre o mal que fez à sociedade e consciente das penas que lhe impuseram. Sem dúvida, já não se fazem mais bandidos como antigamente...!
“BOCA DO LIXO” ganhou os prêmios de melhor montagem e fotografia no Festival do Rio deste ano e tem todos os quesitos para atrair um bom público às salas de cinema.
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