O gênero filme-catástrofe foi
muito explorado por
Hollywood e fez muito
sucesso de bilheteria nos anos
70. São clássicos como “Inferno
na Torre” (1974), “Terremoto”
(1974), “O Destino do Poseidon” (1972) dentre tantos
que usaram e abusaram da
fórmula que recriava o
pavor através de imagens grandiosas da destruição material e
humana. Houve uma tentativa de retomar o gênero com “TITANIC”
(1997), “O DIA DEPOIS DE AMANHÔ (2004) e “2012” (2009), este acompanhado
do marketing das falsas
profecias sobre o fim do
mundo. Ficou provado que as catástrofes naturais ou provocadas pela
soberba do homem - não importa se na
ficção ou se no outro continente em tempo real
do noticiário via satélite – ainda mexem com o imaginário do público
que vai
ao cinema buscando entretenimento.
“O Impossível” (2012) produção espanhola e americana do diretor catalão Juan A. Bayona é
uma dessas extraordinárias histórias que parecem tiradas da
seção ‘Histórias Incríveis’ da Reader’s
Digest . É uma história verídica que
levada às telas do cinema vai além do
entretenimento e dá a grandiosidade e
dimensão do que ela realmente representa para a humanidade. Não é apenas um
filme-catástrofe com cenas dantescas e efeitos especiais de encher os olhos. Na
verdade, os olhos do público se
enchem inevitavelmente de outro modo ao ver as situações limite de
uma família desmembrada violenta e
dramaticamente pelo tsunami de 2004 e
que luta para não morrer em meio ao
completo caos. Talvez
o grande
mérito do filme seja o
foco do diretor em não perder-se numa
narrativa que se sujeitasse aos apelos das cenas de devastação deixados pelo desastre natural
que marcou o mundo num dia de natal
de 2004, mas inteligentemente ele privilegia os bastidores do dia seguinte daquela catástrofe
bíblica mostrando a impotência de uma família e das
centenas de pessoas diante de um
acontecimento de tal magnitude. Outro mérito do filme é que não se trata de
uma ‘tragédia americana’, mas de um evento universal se observado como um microcosmo onde haviam pessoas de várias
partes do mundo. A história da
família do casal Henry e Maria que
busca se reencontrar é apenas uma
das centenas de histórias de sobreviventes da mesma
tragédia e que o mundo
não ficou sabendo. É bom lembrar que na adaptação para o
cinema a família de espanhóis é representada por uma família britânica. Dentro desse microcosmo resultado do cataclismo prevalece a ideia do objetivo comum do ser
humano na busca e esforço mútuo em amenizar o sofrimento e a dor do próximo. Ali todos são iguais sejam europeus, americanos ou asiáticos.
A sequência da chegada do tsunami
não dura talvez mais
que 15 minutos no filme, no
entanto é de um realismo impactante. Tomadas debaixo
d’água e grandes planos abertos aleatórios só tentam mostrar o que
foi aquele fatídico dia. Mais uma
vez a técnica e os efeitos especiais bem dosados a serviço de uma boa história
é um dos segredos do filme. Outro
bom momento é a curta
participação de Geraldine Chaplin como a
desconhecida sobrevivente que trava um
diálogo sobre a eternidade das
estrelas com uma das
crianças da família. É também
uma das poucas pausas de respiração
durante o fundo mergulho no sofrimento e
dor vividos pelos personagens
principais. Vale mencionar as ótimas atuações de Ewan McGregor e Naomi Watts
que emocionam a plateia mesmo sem a ajuda dos “mil violinos” da trilha sonora que surge para intensificar a comoção. O elenco por si só consegue dar o tom e a
atmosfera necessários à
cena.
O Impossível pode ser visto
como o milagre da
determinação e capacidade do ser
humano de lutar pela sua sobrevivência mesmo em meio a dor e a
adversidade. E a maior demonstração de humanismo é a da personagem Mary ao seu filho mais velho que
o faz refletir no quanto vale a pena se colocar no lugar do outro. O Impossível é um ótimo
filme!
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