Hoje, neste 17 de março de 2011, ela completaria 66 anos se estivesse ainda entre nós. Elis Regina, a pimentinha, a Lilica, a sabiá, a maior cantora do Brasil de todos os tempos, a mais versátil, a melhor intérprete, a diva jamais superada pelas outras vozes femininas e maravilhosas da MPB. Tantos adjetivos, por vezes repetitivos, que para alguns soa injusto, mas que de maneira alguma deixam de ser pertinentes. Elis é a maior para quem a amou como voz inigualável que traduzia sentimentos e emoções que ainda ecoam entre nós através dos preciosos registros das gravadores por onde ela passou.
E como seria fazer um filme-biografia sobre Elis Regina? Penso que talvez a primeira grande dificuldade seria encontrar a atriz para encarnar a Elis. Não apenas pela aparência física ou qualidades e habilidades vocais, mas pela capacidade de reviver a trajetória densa e profunda, por vezes tumultuada, de quem viveu sem pudores, e algumas destas vivencias conhecidas por seus fãs e amigos. O que pensar, sentir e imaginar quando ela cantava “ Atrás da Porta”, “Bodas de Prata” ou “Tatuagem”? Ali se fundiam a cantora e a pessoa? Ou era apenas a epifania musical pura da grande intérprete? Meus pensamentos e devaneios preferem não dizer nada, só escutar com a nítida impressão de que é sempre uma emoção que não se repete.
Me ocorre agora a soberba atuação de Marion Cotillard no cinema ao reviver Edith Piaf no filme “PIAF – Um Hino ao Amor”(2007), acredito que deveria ser uma atriz dessa magnitude e com essa capacidade de entrega total em fazer-nos acreditar que a própria estrela parece ressuscitar artisticamente ali na tela. Recentemente, vimos pela televisão aberta a minissérie”MAYSA – Quando Fala o Coração” (2009), telebiografia sobre a cantora Maysa, contemporânea de Elis. A estreante e recém-descoberta atriz Larissa Maciel, quase um clone da verdadeira Maysa, fez sua tour de force para reviver a vida dramática da cantora. Uma excelente produção de acabamento cinematográfico que já tem sua versão formatada para ser lançado nas telas do cinema brasileiro.
Outro elemento bem difícil para esse filme seria a escolha do repertório a ser mostrado.
Elis cantou de tudo! Do rock ao samba. Dos grandes compositores e letristas até aos menos conhecidos do grande público. Aldir Blanc, João Bosco, Paulo César Pinheiro,Chico Buarque, Milton Nascimento, Tom Jobim, Vinícius de Morais são os que me vem a lembrança agora. Seus sucessos que ficaram marcados nas trilhas de telenovelas e caíram na boca do povo literalmente: “Fascinação”, “Madalena”, “Alô, Alô, Marciano” e “Me Deixas Louca” são só alguns exemplos. Caio num dilema terrível como fã de Elis: Qual música abriria o filme? Seria cantada ou orquestrada? Alguns palpites: “Entrudo” ou “Como Nossos Pais”? E pra finalizar o filme? Quem sabe “Amor até o Fim” ou “Maria, Maria” ou talvez “Gracias a La Vida ”? Elis era tudo isso e mais um pouco e mais aquilo que despertava na emoção de cada um.
O filme biográfico poderia ser bem pontuado com uma edição onde se pudesse aproveitar imagens documentais de seus grandes shows como “FALSO BRILHANTE”, “SAUDADES DO BRASIL” e “TREM AZUL”, caso haja registros destes, claro! Sem esquecer seu antológico Programa Ensaio da TV Cultura de 1972 e suas tantas entrevistas que mostravam um modo de ser e pensar que não estavam expressos em suas interpretações musicais.
Bom, colocar num roteiro 36 anos de uma vida intensa renderia a este filme um longa de aproximadamente uns 140 min com direito a bônus musical nos créditos. É um pensamento de fã, eu sei, mas seria justo diante de um repertório tão diversificado de uma estrela como Elis.
Não poderia faltar no filme o modo cruel e infeliz de como algumas publicações da época trataram a morte de Elis. Apesar de meus 12 anos na época, nunca esqueci a tendenciosa e sensacionalista capa da VEJA de 27/01/1982. Tenho certeza que eles conseguiram vender e lucrar bastante com aquela manchete no mínimo desqualificada e triste mas que não ofuscava o dor que sentíamos em perder uma de nossas maiores cantoras. Não respeitaram nosso luto e nem a família de Elis.
Para terminar, fico imaginando o cartaz e o título do filme: Uma silhueta escura de Elis em pleno palco? Seu sorriso aberto a mostrar os dentes numa felicidade transbordante? Ou a capa de alguns de seus tantos discos? O título seria “FURACÃO ELIS” , “ELIS REGINA CARVALHO COSTA”, “AGORA EU SOU UMA ESTRELA!” ou simplesmente “ELIS”? Não sei qual destes caberia ou soaria melhor.
Bem, tudo isso que escrevo não passam de devaneios de um cinéfilo e fã de quem eu considero a maior cantora que este país já teve. Quero viver o suficiente para, quem sabe um dia, ter este sonho realizado: o de ver um grande filme sobre a vida de Elis Regina.
“Até o fim da minha vida eu sei que vou te amar, eu sei que o amor não tem que se acabar...”
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