Fiz plantão na bilheteria do Cinema Reserva Cultural da Av. Paulista para conseguir um ingresso para assistir a concorrida sessão do filme que venceu a Palma de Ouro em Cannes este ano.
Um filme que ganha na principal categoria deste festival de cinema já traz um status de obra prima e desperta a curiosidade de qualquer cinéfilo. Pois bem, sessão lotada e uma platéia ansiosa pela projeção, lá embarcamos!
Com um título estranho e longo, “TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS” (Tailândia/ Reino Unido/ França/ Alemanha/Espanha/Holanda, 2010), do cineasta Apichatpong Weerasethakul é um filme tão esdrúxulo quanto o nome do seu autor. Baseia-se no livro “A Man Who Can Recall His Past Lives” que trata sobre vidas passadas e espiritualidade à moda Osho e com forte discurso da filosofia budista numa atmosfera de carga sobrenatural. Pode até parecer preconceito de um ocidental contra o mundo oriental, mas não é. Mesmo sabendo previamente sobre a temática do filme, eu deixei do lado de fora da sala de projeção o meu olhar judaico-cristão para poder receber o filme isento de qualquer interferência, ainda assim foi uma recepção pouco prazerosa como obra de cinema. Não há como negar que a poesia está presente na narrativa do filme, mas o ritmo da história não coopera o bastante para cativar um espectador leigo e segurar o raciocínio sobre um argumento já por si mesmo tão complexo: vidas passadas, espiritualidade e crenças animistas.
A história de um homem que descobre uma doença incurável e vê-se diante da morte iminente pressupõe uma reflexão existencial profunda visto pela ótica da razão, mas aqui o personagem recebe a ‘visita espiritual’ da esposa morta que vem cuidar dele e conduzi-lo a uma caminhada espiritual sobre as suas vidas passadas e fazer a passagem para a outra vida. A argumentação, portanto, é puramente emocional.
O teor fantasmagórico do filme também não ajuda muito. A trajetória espiritual do personagem em suas vidas passadas demonstra ser muito peculiar e específica dentro da cultura e religião tailandesa e estes elementos tornam o filme ainda mais delicado e complexo, diria que até mesmo pouco palatável para um espectador mediano ou com bom conhecimento prévio, mas como há gosto para tudo não se pode barrar o filme somente por este aspecto.
Acredito que os temas sobre a espiritualidade podem ser tratados no cinema, porém de uma maneira menos hermética e mais comum possível, não ficando numa abstração inatingível. Temos exemplo recentes de filmes que tratam sobre a espiritualidade de uma maneira mais acessível e até didática, mesmo com seus possíveis deslizes de roteiro e fragilidade no tratamento do assunto abordado. É o caso de “CHICO XAVIER” e “NOSSO LAR”, nossas produções made in brazil. Fazendo uma comparação até mesmo irreverente, posso especular que se o filme sobre Chico Xavier fosse apresentado em Cannes seria páreo duro com o Tio Boonmee no quesito vidas passadas, afinal nosso “Tio Chico” foi (ou é) autoridade no assunto.
Bem, brincadeiras à parte, as religiões orientais que tratam de vidas passadas mescladas com filosofias de gurus parecem ser uma crença ou estilo de vida buscados por uma minoria de pessoas ricas e endinheiradas que se reconhecem no exotismo e extravagância que a cultura oriental exala. Quem sabe este não foi um ponto motivador para que o júri em Cannes elegesse o “Tio Boonmee” o melhor guru, digo,melhor filme do ano?
A sessão terminou por volta de meia-noite, ninguém havia arredado o pé do da sala durante a projeção, mas ao acenderem as luzes e os créditos passarem na tela, “nem aplausos nem vaia, um silêncio de morte!”.
Poxa Elias, pra aumentar minha, saudável, inveja só falta vc dizer que vai pro show do Paul McCartney...
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